sábado, 22 de outubro de 2011

"Especialistas" e o mundo ao redor


"Especialistas" e o mundo ao redor
(Comentários ao artigo de um professor premiado em um jornal diário)
Luis Paulo Vieira Braga

Em junho desse ano, postei no blog o texto - Um conservador contra o conservadorismo (Comentários à entrevista de um professor premiado a uma revista semanal) – no qual criticava a visão reducionista de uma celebridade do mundo da matemática brasileira que entre outras soluções para a política científica e a política educacional do país sugeria a República Popular da China como modelo no primeiro caso e o Malthusionismo no segundo, adotando exclusivamente como métrica o sucesso.

Ontem, 21 de outubro, outra celebridade do mesmo mundo e instituição publicou em um grande jornal diário um enaltecimento à própria instituição na captação de talentos internacionais. No entanto, a meta do artigo vai além do marketing institucional, pois o mesmo serve de bandeira para reivindicar o aumento das bolsas de pós-doutorado e o fim das restrições idiomáticas para pesquisadores estrangeiros nos concursos docentes das universidades brasileiras. Em ambos os casos reproduz-se a indigência da academia brasileira, tocada a bolsas e imersa no mais completo descaso pelo que se passa no mundo ao redor.
Se pudesse resumir em uma palavra os oito anos de gestão trabalhista do nosso país ela seria bolsa. A cada dia descobrem-se novas modalidades - bolsa pesca, esporte, natalidade, etc. No caso dos docentes universitários existem vários tipos de bolsas, constituindo folhas de pagamento paralelas à remuneração contratual, isentando o patrão governamental das obrigações previdenciárias e sociais dos contratos de trabalho. As bolsas de produtividade compõem o esquema de sustentação da elite científica brasileira, à margem de um regime criado em 1987 (PUCRCE), contribuindo para um indesejável status quo – salários defasados, regime previdenciário insustentável e conflito de atribuições (perfil docente único ou vários perfis?). Uma liderança da comunidade científica deveria estar reivindicando uma proposta ampla, moderna e consistente de carreira acadêmica ao invés de engrossar a fila da LBA.

Por outro lado, a questão do idioma nacional foi reduzida pelo professor à isenção do uso do português para facilitar o ingresso de estrangeiros à universidade brasileira. Ora, isso não resolve o problema do desconhecimento de outros idiomas pela imensa maioria dos corpos docente e discente das nossas universidades, que se expressam cada vez pior até na própria língua natal. O idioma é um dos fundamentos da identidade nacional e as línguas estrangeiras são canais de comunicação com o mundo exterior, acadêmicos necessariamente precisam dominar muito bem o próprio idioma e também outros idiomas. Essa é a questão fundamental – proficiência em português e outros idiomas na academia brasileira. É isso que gostaria de estar ouvindo de um expoente da ciência brasileira.

Não é coincidência a afinidade entre os dois artigos mencionados, nem ela se deve à convivência dos seus autores. "Especialistas" têm muitas dificuldades em perceber o mundo ao redor, estão focalizados em seus problemas particulares, sua filosofia de vida poderia se resumir à seguinte idéia – resolver os problemas do mundo é resolver todos os problemas particulares. Tão simples assim.